Na primeira pessoa: Alberto Sá Borges

O percurso de Alberto Jorge de Sá Borges no setor do AVAC começou na década de 1950. Participou, como diretor de obra, nos projetos do Hotel Ritz, da Junta de Energia Nuclear e das barragens do Picote e Miranda. Enquanto projetista, as edificações hoteleiras estiveram também no centro da sua atividade, com o Hotel Carlton e o Continental nas obras de referência. Esteve ligado à elaboração de cerca de 25 projetos de hotéis e cerca de 70 sedes e agências de bancos, mas também edifícios industriais e hospitalares. O depoimento que agora publicamos é também uma retrospetiva do condicionamento de ar em Portugal e daquilo que, mesmo com o passar das décadas, ainda falta melhorar.
Depoimento recolhido por João Cardoso e Letícia Ferreira | Fotografia por Letícia Ferreira
O início do mercado do ar condicionado
Julgo que tem particular importância relembrar como é que o condicionamento de ar chegou a Portugal. Não foi inventado de propósito para a nossa utilização. Chegou porque nasceu de uma atividade anterior que era a refrigeração, imposta pela necessidade de conservar sobretudo alimentos, mas não só.
Um dia, um senhor americano chamado Carrier pensou que aquela sabedoria poderia ser aproveitada para benefício das pessoas que, não precisando de recorrer à refrigeração, precisam, uma vez por outra, de recorrer ao seu próprio arrefecimento ou ao seu próprio aquecimento. Era um homem com muita preparação tecnológica, inclusive científica - era bom em matemática - e estabeleceu os primeiros princípios organizados no campo da ciência para aprofundar uma atividade que veio a ser designada entre nós por condicionamento de ar, como primeira aproximação da designação de origem americana, “airconditioning”.
Os grandes produtores do equipamento eram americanos, e as marcas americanas vieram pelo mundo fora e chegaram a Portugal à procura de quem quisesse vender o seu equipamento. Criou-se um primeiro estádio da atividade comercial do condicionamento de ar, com umas empresas que tinham representação americana de um fabricante e que concorriam, procurando fazer tudo com um só equipamento de um só fabricante. Portanto, a relação era biunívoca, de um lado um representante em Portugal e, do outro lado, um fabricante americano. Alguns nomes já não existem, como a Westinghouse. Outros existem, como a Carrier, que era representada por uma empresa que desapareceu na voragem do 25 de Abril - a Nunes Correia. Havia também a Trane, que ainda existe, e era representada por outra empresa grande - Fonseca & Seabra, também engolida pela voragem do 25 de Abril, e havia uma empresa luso-italiana que também detinha uma marca. Essas marcas são citadas porque têm o mérito extraordinário de serem os primeiros introdutores da ciência do condicionamento de ar em Portugal. (...)
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