Entrevista a António Granjeia

Com uma larga experiência em Refrigeração, António Granjeia fala dos desafios associados ao setor hoje, para além de sublinhar a necessidade de se apostar mais em formação e disseminação de conhecimento científico.
Entrevista por Cátia Vilaça | Fotografia: D.R.
Quais os principais desafios com que o setor da refrigeração se depara atualmente, tendo em conta o contexto em que tem evoluído?
Enquanto o AVAC normalmente está associado a grandes multinacionais, a refrigeração tem uma componente ainda de muito input do técnico, muito personalizada. E tem, a meu ver, uma outra filosofia: num hotel, com o AVAC em aquecimento, o termóstato não é, em geral, de grande precisão, pelo que não sentimos grande rigor no controlo da temperatura pretendida. Com os ventiloconvetores, normalmente pouco silenciosos e erradamente localizados no quarto, a ventilação natural é deficiente e a qualidade do ar, logo, o conforto, deixam muito a desejar.
Na refrigeração, se [o produto] é maçã ou laranja ou brócolos, temos variações de temperatura de meio grau, e às vezes menos. Na humidade, variações de 10 % às vezes já é muito. Na refrigeração existem mais soluções do que produtos.
A Centauro apresentou-se como fabricante de soluções e produtos para refrigeração. A empresa foi bastante criticada, até nas feiras, mas depois o mercado percebeu e sentiu os motivos. Hoje todos os grandes fabricantes de permutadores de calor e até de centrais frigoríficas, cada vez mais estão a apostar na solução. O frio tem parâmetros de controlo mais apertados, ao que acresce o facto de, por exemplo nos supermercados, a refrigeração significar mais 50 % do consumo de energia de todo o supermercado. É algo que em termos de volume de negócios não tem significado, mas em termos de pegada de CO2, de requisitos técnicos ou de consumo de energia se traduz numa componente pesadíssima. Um técnico de frio com uma formação sólida pode fazer milagres numa instalação frigorífica. A Centauro, com a colaboração da ebmpapst, fez uma demonstração num supermercado em Portugal em que a nível de móveis, só mudando o tipo de ventiladores, se conseguiu reduzir 73 % do consumo de energia. A nível dos evaporadores, a Centauro já tinha motores de alta eficiência, mas mesmo assim a redução foi de 32 %. O único compromisso pedido ao supermercado foi que escolhesse o medidor de energia.
Uma coisa é falar em seminários/papers/artigos, outra é ter valores concretos no terreno. O dono de obra aceitou o desafio e eles escolheram o contador de energia que foi instalado, sendo que deste contador de energia saía em exclusivo a energia para este núcleo de equipamentos. Hoje a Centauro tem outras experiências/testes a decorrer, uma vez que sempre defendeu o conceito de que o melhor laboratório é o terreno.
A certificação é interessante, mas é feita para condições de norma, que é tudo menos o que se encontra na realidade. Hoje, também outros fabricantes já estão a seguir por aí. Para vender, é muito fácil dizer que está certificado, mas isto em bom rigor diz muito pouco em termos de desempenho do equipamento na instalação. Com certeza que o ar condicionado deste hotel está certificado, mas eu tenho de abrir a janela do quarto porque não consigo controlar o calor. Se no Outono estiver calor, não é possível ligar o “frio”, e se na Primavera estiver frio, não consigo ligar o “calor”. E isto porque quem ganha a empreitada para fazer a obra não quer investir num sistema que vá de encontro às expectativas dos clientes, limitando as opções do instalador de AVAC. (...)
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