Captar água do ar com uma solução de tinta refrigerante

Christina Genet
Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Sydney destaca as vantagens de um novo revestimento com a capacidade de captar água do ar, desenvolvido em parceria com a Dewpoint Innovations. A solução apresenta resultados promissores em várias áreas da indústria.
Um grupo de investigadores da Universidade de Sydney na Austrália, em parceria com a Dewpoint Innovations, desenvolveu um produto que poderá revelar-se um aliado promissor para o controlo da temperatura interior de edifícios, num contexto em que a água se poderá tornar um recurso raro e precioso. Trata-se de um revestimento polimérico nanoengenheirado de tipo tinta, capaz de captar água diretamente do ar, sem recorrer a qualquer recurso energético.
Criada pela professora Chiara Neto e pela sua equipa, a substância reflete até 97 % da luz solar e irradia calor para o ar, mantendo as superfícies até seis graus mais frias do que o ar envolvente, mesmo sob luz solar direta. Este processo cria condições ideais para que o vapor de água atmosférico condense em gotículas na superfície arrefecida, afirma a investigadora. Para além de impulsionar as ciências dos revestimentos de cobertura térmica, para a professora Neto, esta tecnologia abre caminho a “fontes duráveis, baratas e decentralizadas de água fresca – uma necessidade crítica face às alterações climáticas e à crescente escassez de água”.
Um abastecimento de água previsível
O estudo foi conduzido durante seis meses no telhado do Sydney Nanoscience Hub e levou a resultados promissores. Durante 32 % do ano o orvalho pôde ser recolhido, fornecendo assim um abastecimento de água sustentável e previsível, mesmo em períodos sem chuva. Em condições ótimas, os revestimentos podem recolher até 390 mL de água por metro quadrado por dia – suficiente para que uma superfície de 12 metros quadrados satisfaça as necessidades diárias de consumo de água de uma pessoa.
No estudo publicado na Advances Funcional Materials, os investigadores sublinham que a solução pode também ser usada em grande escada, integrado num revestimento tipo tinta. O material poderá, assim, ser versátil e utilizado em diferentes áreas da indústria. A água recolhida poderia servir para animais, para horticultura de plantas de elevado valor, em sistemas de arrefecimento por nebulização ou ainda na produção de hidrogénio.
Reduzir os efeitos das ilhas de calor urbanas
A tecnologia gera, ainda, uma refletividade muito elevada graças à sua estrutura interna porosa. “Ao remover materiais que absorvem UV, superamos o limite tradicional da refletividade solar, evitando ao mesmo tempo o encandeamento através da reflexão difusa. Este equilíbrio entre desempenho e conforto visual facilita a integração e torna-o mais atrativo para aplicações no mundo real”, explica Dr Ming Chiu, o autor principal do estudo e Diretor de Tecnologia da Dewpoint Innovations.
Em conclusão, a invenção representa diversas vantagens em muitas áreas. Para além da captação de água, estes revestimentos poderão ajudar a reduzir os efeitos das ilhas de calor urbanas, diminuir as necessidades energéticas de ar condicionado e fornecer fontes de água resilientes ao clima em regiões sujeitas a um aumento do calor e à escassez de água.
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