Entrevista a Luís P. C. Neto

O XVI Congresso Ibero-Americano de Ar Condicionado e Refrigeração (CIAR 2022) acontece num contexto de emergência climática. E são vários os contributos que o setor do AVAC pode dar para reduzir a pegada dos edifícios. Também acontece num contexto pós-pandémico, depois de dúvidas e aprendizagens. Em entrevista, Luís Neto, diretor da AVAC Magazine e presidente da EFRIARC, uma das entidades organizadoras do evento, faz o ponto de situação desses desafios e da evolução das preocupações do setor.
Entrevista por Cátia Vilaça
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A pandemia deu nova visibilidade ao setor do AVAC, com temas como a ventilação e o transporte de partículas a saltarem para a ordem do dia, a par das dúvidas acerca do papel do ar condicionado na dispersão do vírus. Qual a importância de tornar estes temas acessíveis à opinião pública?
Eu diria que antes mesmo de tornar estes temas acessíveis à opinião pública há todo um “trabalho de casa” que consiste em estabelecer ideias claras e consensuais sobre estes assuntos entre a própria comunidade técnica do AVAC&R. Esse foi um dos grandes contributos que a EFRIARC deu ao setor quando, em plena pandemia, organizámos, em conjunto com a FAIAR (e, portanto, com difusão também para os países da América Latina), o webinar “Análise sobre os Modos de Transmissão da COVID-19” em que o Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e Vice-Presidente da REHVA Manuel Gameiro da Silva fez uma esclarecedora e inovadora apresentação sobre as dimensões e os tempos de persistência do SARS-CoV-2, o comportamento das partículas exaladas, os modos de transmissão/contaminação, a maior propagação de gotículas expiratórias por turbulência em um jato de tosse, finalizando sobre os efeitos das máscaras versus distância de segurança. Tudo isto numa altura em que as autoridades de saúde portuguesas ainda não sabiam bem se recomendavam ou não as máscaras… No final de 2020 organizámos o Fórum “COVID-19. HVAC guidance and emerging trends. Global forum" onde tivemos como oradores convidados Bill Bahnfleth (ASHRAE Epidemic Task Force), Jarek Kurnitski (REHVA Technology and Research Committee), Oswaldo Bueno (ABRAVA), Noboru Kagawa (JSRAE Former President) e Manuel Gameiro da Silva (Professor Catedrático da Universidade de Coimbra), todos eles reconhecidos especialistas nesta área.
Para além disto houve também várias reuniões da Comissão Técnica da EFRIARC para discutir as melhores estratégias de ventilação de espaços interiores, de modo a proteger de eventual contaminação os seus utentes, mas sem comprometer a qualidade do ar interior e o conforto térmico. Destas reuniões surgiram documentos de orientação sobre como operar e usar sistemas de refrigeração e AVAC em edifícios. Estes documentos foram partilhados não só com os associados da EFRIARC (projetistas, consultores, fabricantes, instaladores, etc.) mas também com as autoridades nacionais.
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O preço da energia tem sofrido flutuações drásticas. De que forma este setor, quer na vertente habitacional quer na industrial, se tem preparado para esse impacto?
O aumento do preço de energia é um facto cada vez mais presente nas preocupações do nosso dia-a-dia.
Eu diria que o setor do AVAC&R já há muitos anos que tem preocupações com a energia (no sentido mais lato do termo) dos edifícios e respetivas instalações e equipamentos, quanto mais não seja por via das imposições legais e regulamentares que vão surgindo e que lhe são impostas. Esta preocupação é transversal a todos os intervenientes, começando no fabricante dos equipamentos, passando pelo projetista da obra, e acabando no distribuidor e no instalador.
Se no setor industrial é quase impossível não deixar de suportar esse encargo acrescido com a energia, já no setor habitacional a coisa é bem diferente! Além da pobreza energética que nos tem caracterizado, a opção mais prevalecente é a de não ter equipamentos de climatização ou, tendo-os, mantê-los desligados. (...)
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