Descarbonizar os edifícios até 2050 (?)

A Comissão Europeia, no seu recente pacote Fit for 55, assume a meta de reduzir as emissões em 55% até 2030. Para 2050, o objetivo é a neutralidade climática. Na senda destes objetivos, Portugal desenhou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), ou seja, o conjunto de medidas que deverão levar o país a alcançar um balanço nulo entre emissões e remoções da atmosfera de gases com efeito de estufa.
Para cumprir estes objetivos, urge descarbonizar o edificado, algo que não parece fácil de concretizar em poucos anos se tivermos em conta a ineficiência de muitas construções (e uma taxa de renovação que não ultrapassa 1% na Europa) e o recurso a energia fóssil, que ainda subsiste.
Foi este o tema que Eduardo Maldonado, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, levou ao XVI Congresso Ibero-Americano de Ar Condicionado e Refrigeração (CIAR2022), que decorreu entre 4 e 6 de maio em Lisboa.
O docente fez notar a necessidade dessa descarbonização do edificado, mas assinalou os obstáculos desse caminho. Desde logo, o facto de não ser possível reduzir a zero as necessidades de calor, o que inviabiliza a descarbonização completa enquanto a eletricidade não for completamente verde. Para o conseguir, precisamos não só de aumentar o recurso a energia renovável mas também de melhorar a capacidade de armazenamento.
Ressalvando que os edifícios vão sempre precisar de energia, Eduardo Maldonado salientou que as atuais técnicas de AVAC não conseguem reduzir a zero o uso de energia, e que o surgimento de melhores soluções depende de uma maior aposta em Investigação e Desenvolvimento.
Outra das preocupações manifestadas pelo docente foi o facto de ainda estarmos a construir edifícios muito distantes da meta das emissões nulas, que vão precisar de grandes renovações dentro de uma década ou duas, o que dificulta ainda mais o cumprimento das metas.
Financiamento
Mas ainda que a renovação total do parque edificado tenha recursos técnicos, materiais e humanos para avançar, quem vai pagar?
A Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios de Portugal estima em 143 mil milhões de euros o custo da renovação do edificado português. Entre PRR, Fundo Ambiental e Fundo de Carbono, o financiamento público e os incentivos aos privados não parecem, para já, suficientes para ir de encontro a este ambicioso objetivo, embora a Comissão europeia pretenda constituir um mecanismo de financiamento de 91 mil milhões de euros por ano que, combinado com outras fontes de financiamento, pode chegar a 350 mil milhões. Contudo, este valor destina-se a edifícios públicos, estando prevista a viabilização de hipotecas “verdes” para financiamento privado.
Outros artigos que lhe podem interessar