Entrevista a Manuel Gameiro

O estudo dos modos de transmissão do vírus SARS-CoV-1 levou o investigador Manuel Gameiro a concluir rapidamente que, quando nos confrontámos com a pandemia de SARS-CoV-2, a transmissão por aerossóis não podia ser negligenciada, com todas as implicações que isso traz ao nível da facilidade da dispersão do vírus e, consequentemente, da necessidade de adotar medidas de proteção eficazes. Este foi o ponto de partida para uma conversa gravada quando a gripe ainda estava no seu pico de atividade, e que passou pelas medidas de proteção a adotar em diferentes espaços e as necessidades e modelos de ventilação a ter em conta para criar espaços seguros.

Entrevista por Cátia Vilaça | Fotografia D.R.

Na altura da Covid-19 ficou comprovado que a aerossolização era um dos meios de transmissão do vírus, o que naturalmente contribuía para a sua perigosidade e velocidade de transmissão. No caso dos vírus de gripe que temos agora em circulação, esta questão dos aerossóis também é um dos meios de transmissão de relevo?

As elevadas taxas de transmissão estão normalmente associadas a transmissão por aerossóis. Nós temos três formas de transmissão que dependem basicamente da dimensão das gotículas inaladas. Normalmente, existe algum elemento contaminante no trato respiratório da pessoa infetada, que depois vai ser transmitido a outras pessoas. O que diferencia as gotículas é o comportamento que elas vão ter depois de serem exaladas. As mais pequenas, tipicamente com dimensões abaixo de 10 mícron, ficam em suspensão. O balanço das forças que atuam nessas gotículas faz com que elas sejam arrastadas pelas correntes de ar, e quanto mais pequenas forem, mais tempo conseguem estar em suspensão – pode ser por horas ou dias.

Do que nós exalamos, tipicamente metade das gotículas têm características que permitem que que venham a constituir aerossol, que consiste num escoamento bifásico, em que há ar e outra fase, líquida ou sólida. As partículas de dimensão intermédia, entre os 10 mícron e os 50 a 100 mícron, fazem trajetórias mais ou menos parabólicas durante algum tempo. Saem com uma determinada velocidade inicial e depois, devido ao atrito, vão perdendo velocidade e as forças de sustentação diminuem, e caem. No princípio podem fazer trajetos de um ou dois metros praticamente como se fossem balas, enquanto as maiores caem numa distância à volta de um metro.

Para que haja transmissão, as gotículas com vírus ou bactérias têm de chegar em quantidade suficiente ao elemento recetor para que consigam infetar. Uma coisa é a quantidade que chega, outra coisa é o facto de a pessoa estar mais ou menos débil, ter um sistema imunitário mais ou menos forte, e além disso o agente ser mais ou menos infeccioso. Durante algum tempo, havia a convicção de que as infeções virais não eram transmitidas por aerossóis, por causa de um compêndio de infeciologia escrito na primeira metade do século XX por um médico americano que depois chegou a ser Secretário da Saúde nos EUA. Tivemos reticências na DGS, porque aquilo era mais ou menos um axioma, apesar de ter surgido por razões que, sob o ponto de vista científico, não eram completamente certas. Começámos a pandemia a dizer que a transmissão não era feita por aerossóis, e acabámos a pandemia a dizer que era a principal forma de transmissão. (...)

Entrevista completa em Avac Magazine nº 7 jan/mar 2024

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